A linguagem é a ferramenta fundamental que utilizamos para nos comunicar, expressar nossos pensamentos, sentimentos e desejos, e interagir com o mundo ao nosso redor. Mas você já parou para pensar que, ao usar a linguagem, podemos ter diferentes intenções e propósitos? É aí que entram as funções da linguagem, que nos ajudam a entender os diversos usos e objetivos da comunicação.

As funções da linguagem, propostas pelo linguista Roman Jakobson, são como diferentes “modos” de usar a linguagem, cada um com suas características e finalidades específicas. Conhecer essas funções é essencial para compreender e produzir textos de forma eficaz, além de nos tornar mais conscientes do poder da comunicação.

1. Função Referencial (ou Denotativa): Informar é Preciso

A função referencial é aquela que se concentra na transmissão de informações objetivas e fatos. Ela busca apresentar a realidade de forma clara e direta, sem expressar opiniões ou emoções. É a função predominante em textos jornalísticos, científicos, didáticos e informativos em geral.

• Características:
  • Linguagem objetiva e denotativa (sentido literal das palavras).
  • Foco no referente (o assunto da mensagem).
  • Uso de verbos no indicativo e terceira pessoa.

Exemplos:

• “A capital do Brasil é Brasília.”
• “A água ferve a 100 graus Celsius ao nível do mar.”
• “O coronavírus é um vírus que causa infecções respiratórias.”
• Um verbete de dicionário: “Cachorro: mamífero carnívoro doméstico.”
• Uma notícia: “A inflação no Brasil atingiu 5% no último mês.”

2. Função Emotiva (ou Expressiva): A Voz dos Sentimentos

A função emotiva se concentra na expressão dos sentimentos, emoções, opiniões e atitudes do emissor. Ela revela a subjetividade de quem fala ou escreve, transmitindo suas impressões e estados de espírito. É a função predominante em textos pessoais, como cartas, diários, poemas líricos e desabafos.

• Características:
  • Linguagem subjetiva e conotativa (sentido figurado das palavras).
  • Foco no emissor (quem fala ou escreve).
  • Uso de interjeições, exclamações, pronomes na primeira pessoa e verbos no subjuntivo.

Exemplos:

• “Que dia lindo! Estou tão feliz!”
• “Ai, que dor de cabeça!”
• “Eu acho que essa decisão foi um erro.”
• Um poema lírico: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente…” (Luís Vaz de Camões)
• Um diário: “Hoje me senti muito triste com a notícia…”

3. Função Conativa (ou Apelativa): Influenciando o Receptor

A função conativa se concentra em influenciar o comportamento do receptor, buscando convencê-lo, persuadi-lo ou dar-lhe ordens. Ela busca obter uma resposta ou ação do interlocutor. É a função predominante em textos publicitários, discursos políticos, manuais de instrução e ordens.

• Características:
  • Linguagem persuasiva e imperativa.
  • Foco no receptor (quem ouve ou lê).
  • Uso de verbos no imperativo, pronomes na segunda pessoa e vocativos.

Exemplos:

• “Compre já o seu produto!”
• “Vote em mim para um Brasil melhor!”
• “Feche a porta, por favor.”
• Um anúncio publicitário: “Experimente o novo sabor de… Você vai adorar!”
• Um manual de instruções: “Para ligar o aparelho, pressione o botão…”

4. Função Fática: Mantendo o Contato

A função fática se concentra em estabelecer, manter ou interromper o contato entre emissor e receptor. Ela busca verificar se o canal de comunicação está funcionando e se a mensagem está sendo compreendida. É a função predominante em cumprimentos, saudações, perguntas de confirmação e expressões de cortesia.

• Características:
  • Linguagem simples e repetitiva.
  • Foco no canal de comunicação.
  • Uso de expressões como “alô”, “oi”, “tudo bem?”, “entende?”, “tá me ouvindo?”.

Exemplos:

• “Alô, quem fala?”
• “Oi, tudo bem?”
• “Você está me ouvindo?”
• Uma conversa telefônica: “Sim, sim… Entendo… Tá bom…”
• Um cumprimento: “Bom dia! Como vai?”

5. Função Poética: A Beleza da Linguagem

A função poética se concentra na forma da mensagem, buscando criar beleza, ritmo e sonoridade. Ela explora os recursos expressivos da linguagem, como figuras de linguagem, rimas, aliterações e assonâncias. É a função predominante em textos literários, como poemas, músicas e obras de ficção.

• Características:
  • Linguagem conotativa e figurada.
  • Foco na mensagem em si.
  • Uso de recursos estilísticos e figuras de linguagem.

Exemplos:

• “Rosa, linda rosa, rosa perfumosa…”
• “O sol beija a flor com carinho.”
• “Chovia canivetes naquela noite.”
• Um poema: “No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho” (Carlos Drummond de Andrade)
• Uma música: “Água de beber / Água de beber, camará” (Vinicius de Moraes)

6. Função Metalinguística: A Linguagem Falando de Si

A função metalinguística se concentra na linguagem em si, utilizando-a para explicar ou definir a própria linguagem. Ela busca esclarecer o significado de palavras, regras gramaticais ou aspectos da comunicação. É a função predominante em dicionários, gramáticas, livros didáticos de língua portuguesa e textos que falam sobre a linguagem.

• Características:
  • Linguagem que explica a linguagem.
  • Foco no código (a língua).
  • Uso de definições, exemplos e explicações.

Exemplos:

• “Substantivo é a palavra que nomeia seres.”
• “O verbo ‘ser’ é um verbo de ligação.”
• “Metáfora é uma figura de linguagem que consiste em…”
• Um verbete de dicionário que define uma palavra.
• Uma gramática que explica as regras da língua portuguesa.

Dominando a Arte da Comunicação

As funções da linguagem são ferramentas poderosas que nos permitem usar a língua portuguesa de forma consciente e eficaz. Ao conhecer e dominar essas funções, podemos nos comunicar com mais clareza, expressividade e persuasão, além de compreender melhor as mensagens que recebemos.

Lembre-se que, na maioria dos textos, diferentes funções da linguagem podem coexistir, mas geralmente uma delas predomina, determinando o propósito principal da comunicação. Ao analisar um texto, procure identificar qual função se destaca e como ela contribui para a construção do significado.